quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Risoflora


Chico Science escreveu que Risoflora era a flor mais bela do manguezal. Parafraseando o cantor pernambucano e analisando o poema que vamos ler hoje por aqui, espero que nasça uma flor dessas em cada família que é vítima do protagonista (e vilão) do nosso texto aqui hoje. Precisa-se de esperança, de determinação, de fé, e uma flor é algo que simboliza tudo isso. Para quem não entender as metáforas do poema, vai uma dica (claro, não posso dar tudo mastigado para vocês...): qual o signo do horóscopo que tem como símbolo o habitante do manguezal?



Mangue

Os caminhos da dor nem sempre têm saída.
São estradas tortuosas e torturantes.
Com rios de lágrimas e lagos de sangue.
E, no fim, a Indesejada da gent
e nos espera em sua marcha claudicante.

Há atalhos nesses caminhos
- queira nunca traçá-los -
em trilhas de caranguejo.
O crustáceo surge pequeno e silencioso
e vai sugando tudo o que há de vida
e se torna enorme e escandaloso.

Os que pisam nesse caminho,
sem saber, afundam devagarinho.
Dormem na praia e acordam no Manguezal.

HÁ CARANGUEJOS EM TODOS OS LADOS!

O que nasceu no pâncreas pôs sua ova
e a prole se espalha e ganha terra nova em todo o corpo.

O ramal vai encurtando, já se vê que é sem saída.
As pinças e garras vão arranhando e segurando
os amores de quem faz essa caminhada.
Querem arrastá-los junto, qurem fura-lhes a alma,
querem tirar-lhes o alicerce, chocar as famílias.

Mas não importa mais, são coisas da vida.
O fim do beco já está dobrando a esquina,
e é sábio o aventureiro que pisa esse chão olhando pra cima.


P.S: Outra paráfrase: Indesejada da gente é como Manuel Bandeira chamava a Morte.

4 comentários:

  1. Meu caro João,

    Já o parabenizei pelo MSN e agora o faço nesse comentário. Ótimo espaço para leitura e reflexões... Aproveito também para compartilhar a reflexão que fiz sobre sua postagem. Em minha família há um ano aproximadamente perdi meu avô vitimado por esse mal. Muito doloroso e avassalador! Minha família ficou chocada. Ao ler o poema fiz memória desse momento, que apesar de minha distância de todas as situações vivenciadas por minha família em Santarém, muito me atingiu cá onde estou... No entanto, a vida continua: "... São coisas da vida.
    O fim do beco já está dobrando a esquina,
    e é sábio o aventureiro que pisa esse chão olhando pra cima."
    Abraço e sucesso em suas postagens.
    Visitarei sempre que possível. Depois te passo o endereço do meu espaço que está abandonado há tempos! rsrs...

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  2. Pode ser que minha memória não esteja fresca e minha ignorância sobre outros poemas possa influenciar na opinião.Mas primo, esse foi o melhor que já li aqui até agora. Parabéns.

    Abraço,

    Toshio

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  3. Parabéns por essa bela obra, toda a dor e o sentimento de quem sofre está escrita na sua melhor obra até o momento, espero com ansiedade os seus poemas, parabéns por este poema.

    Parabéns
    Marcus Paulo

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  4. O Valdeco deve tar orgulhoso.hahaha
    Desculpa a falta de seriedade mas sempre que vejo a palavra mangue lembro de um amigo que acha que em santarém só é mangue e ele ainda diz:
    Aquele bloco, pretinhos do mangue não é em santarém? e o festival de sto antonio de odivelas não é lá?Tércio do mangue diz ele.

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