sábado, 14 de maio de 2011

Por que as velas?

O poema de hoje trata de uma invenção que nos acompanha por todo o trajeto histórico da humanidade: As velas. Neste contexto, a palavra vela tem vários significados - físicos e culturais - e então resolvi "poetizar" o nobre cilindro de cera e parafina, que sempre iluminou os passos e o dia-a-dia do povo brasileiro.







Às Velas

Começou nas velas de Cabral,
içadas ao mar sobre as naus,
trouxeram para estas terras
as velas dos altares de Portugal.


E o vento que apagara as velas
do velório sombrio do abolicionista
tremulara as velas de um navio negreiro,
recheado de velas de Ogum e de Ubanda
para formar nossa cera sincretista.


O tempo passa, a cera se derrama sobre si.
Na vela que vela o sono da sinhá,
na vela que o poeta leva para o luar,
no jantar romântico a luz de velas,
Na vela do São João, onde os pequenos acendem seus traques,
na vela da Roça sem luz, 
Na vela assoprada no aniversário,
ou no Apagão da metrópode, na virada do milênio.
Talvez a vela dos pescadores viris, 
ou vela de ignição dos motores.
Ou será as velas aladas do 14-Bis?


Vela que tanto revelou.
Releve o suor ardente que derramou.
Aceitaste sempre a chama que te forjou,
e o tempo nunca embora te levou.




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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Estive fora uns dias...

Eu até tentei...
Produzi alguns versos, é verdade, mas a minha viagem a São Paulo me impediu de postar aqui no blog. Entretanto, os leitores terão um saldo positivo dessa ilíada, visto que tomei um chá de cultura na Cidade da Garoa. Fui em inúmeros museus, conheci uma cultura cosmopolita totalmente diferente da nossa, provinciana, idiossincrasia, li um livro por completo, o que há muito não fazia (Objecto Quase, José Saramago), comi bastante (sim, a culinária é um forte ramo do que considero CULTURA) e, principalmente, me inspirei.
Agradeço aos amigos paulistas (de nascimento ou de "ofício") que me ajudaram a conhecer a cidade, em especial ao meu primo Toshio, que ajudou no título do poema de hoje.
Aqui vai um pouquinho do que vivi: um poema sobre um dos mais incríveis (e simples) lugares que já fui. O
Mercado Municipal de São Paulo.



Pândega Aromática
nosso almoço
Pelos teus estreitos corredores
vou sentindo os divinos odores
e provo com os olhos as ervas, os azeites e tantas frutas
-das afrodisíacas às arlequinais -
que me afogam nessa gula tão colorida.

e, como um ímã, sou magnetizado
para a fumaça do pastel de bacalhau.
Sob a luz gelada destes vitrais,
alquimizo os paladares dessa aquarela
nos farelos do sanduíche de mortadela.

Mercado Municipal de São Paulo
Queria somente uma câmera química,
que "fotografasse" gostos e aromas.
Viajaria todo o Oriente,
com escala no Porto e em Lisboa,
na lembrança dos teus corredores.

Japão, China, Síria, Turquia
e até o Líbano no esplendo do seu Cedro.
Todos cabem neste imenso espectro
do aconchegante Cartão-postal:
casa dos sabores, Mercado Municipal